O governo Lula negocia trocar parte das ações que tem na Eletrobras para assumir o controle total da Eletronuclear. A permuta é parte dos termos que estão sendo discutidos no acordo para que o governo aumente a sua representação no comando da Eletrobras. Procurados, governo e empresa não se manifestaram oficialmente. A estimativa é que a União transfira para a Eletrobras entre 2,5% e 3% de sua participação na empresa e assuma 100% da Eletronuclear, que controla as usinas nucleares de Angra 1 e 2 e tem a obrigação de construir Angra 3.
Atualmente, o governo tem 43% do capital social da Eletrobras. A venda de parte dessa fatia, na visão dos negociadores da União, manteria a posição majoritária do governo e, em troca, resolveria o impasse em torno da participação que a União deseja ter no conselho de administração da empresa. O governo pleiteia três cadeiras em um total de dez no conselho de administração da Eletrobras e ainda indicar um membro para o conselho fiscal da companhia.
Nessa permuta de ações, o governo negocia um deságio no preço em favor da União, ou seja, que essa troca não seja feita pelo valor cheio das ações da Eletrobras segundo preço de negociação na B3. Em outras palavras, o governo deseja usar menos ações da Eletrobras para pagar pela participação na Eletronuclear. Esse deságio foi negociado nesta terça-feira, 30, em reunião entre o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro. Silveira também debateu os termos do acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A expectativa do governo é que essa troca produza um “lucro” estimado em R$ 2 bilhões para o governo federal. Um negociador, que preferiu não se identificar, disse que quem quer vender não pode naturalmente vender pelo preço que quer.
A Eletrobras detém cerca de 35% das ações da Eletronuclear, uma herança do período em que a empresa ainda era estatal. Na privatização, em 2022, para evitar entregar o controle de ativos de geração nuclear e de Itaipu Binacional à gestão privada, o governo criou a ENBPar, estatal que detém os outros 65% da Eletronuclear.
A Eletrobras deseja se desfazer do ativo, uma vez que estabeleceu como estratégia centrar esforços em energia renovável, e o governo propôs incluir o assunto nas tratativas sobre o comando da empresa, que se arrastam desde o ano passado.
Um dos principais problemas hoje na Eletronuclear é a construção de Angra 3, cuja conclusão até 2029 é um dos compromissos da empresa. As obras já custaram R$ 7,8 bilhões em recursos públicos e ainda não foram finalizadas. A estimativa é que sejam necessários mais R$ 20 bilhões, que devem ser aportados também pelos acionistas privados da Eletrobras.
Além da quantia, investidores avaliam a pertinência de se aplicar recursos numa usina que vai gerar energia a preços mais altos do que concorrentes de geração a gás ou de fontes renováveis.
No ano passado, a Advocacia-Geral da União ingressou com uma ação no STF alegando que, embora o governo tenha 43% do capital da Eletrobras, há sub-subrepresentação no conselho e prejuízo ao Estado. O relator do caso na Corte, ministro Kassio Nunes Marques, encaminhou as partes para um processo de conciliação.
Estadão Conteúdo