Os parlamentares com mandato do PT no Rio Grande do Norte resolveram dar um “jeitinho” para homenagear o MST pelos seus 40 anos, fato que foi rejeitado pelos deputados estaduais em votação realizada em março na Assembleia Legislativa do Estado.
Conhecido por realizar invasões de terra, inclusive produtivas – como aconteceu no ano passado na Bahia -, o Movimento também foi alvo recentemente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados, quando foram revelados ataques e ameaças a integrantes que discordavam do posicionamento político do grupo. Foram fatos como estes que motivaram a maioria dos parlamentares a rejeitar tal homenagem.
Mas, mesmo assim, a deputada estadual Isolda Dantas não desistiu da ideia. E, em parceria com os demais deputados e vereadores do PT em Natal, realizou um ato na última quarta-feira (05) em frente a sede do Legislativo, em praça pública. A iniciativa foi apoiada pelos deputados federais Fernando Mineiro e Natália Bonavides, deputados estaduais Francisco do PT e Divaneide Basílio, e pelos vereadores Daniel Valença e Brisa Bracchi.
Nas redes sociais, a deputada Natália Bonavides publicou um trecho do seu discurso no evento. Diante de uma faixa com os dizeres “ocupar é um direito”, a pré-candidata a prefeita de Natal do petismo saiu em defesa do MST. “Ter um movimento que lute por terra é fundamental para a nossa sociedade”, disse. Natália também se manifestou favorável, anteriormente, a invasão realizada pelo MLB ao terreno privado do antigo Diário de Natal. A ação já teve decisão de reintegração de posse emitida pela Justiça, mas continua no local.
Abril vermelho
O MST realizou invasões a 31 propriedades em 18 estados do Brasil e Distrito Federal no chamado “abril vermelho” deste ano. Em matéria publicada na Tribuna do Norte na época, a Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern) lamentou a situação de insegurança no estado e classificou as ações do MST como “de caráter político-ideológico, e não de luta por terra”.
Apesar de ser alvo de uma homenagem, o MST não possui CNPJ, ou seja, é como se “não existisse” oficialmente. A tática, antiga, evita, por exemplo, que seus líderes possam ser responsabilizados por invasões, ataques ou quaisquer outros crimes que já tenham sido cometidos ao longo destas quatro décadas de história do Movimento.
Diante de muitas acusações, a Câmara dos Deputados resolveu instalar uma CPI no ano passado para investigar o MST. O trabalho dos deputados federais deixou para a história relatos de ex-integrantes do Movimento Sem-Terra, que continuam disponíveis no mundo livre da internet.
Nelcilene Reis morou em um acampamento do MST de 2016 a 2019. Ela afirmou aos parlamentares federais que as famílias que viviam no local eram usadas como massa de manobra pelo movimento. Ela disse ainda que os acampados trabalhavam para o MST sem remuneração e ainda eram punidos caso não obedecessem às normas do acampamento.
Outra depoente na mesma CPI foi Vanuza dos Santos de Souza, que fez parte do MST e acusou seus militantes de expulsá-la da própria casa no assentamento por não concordar com orientações e direcionamentos defendidos pelas lideranças sem-terra. “Ou você vota, ou você perde a terra”, disse na época.